A Ilha do Fundão, localizada na Baía de Guanabara, é uma ilha artificialmente criada entre os anos de 1948 e 1952, no chamado Estuário de Manguinhos, Enseada de Inhaúma – formada pelos rios Jacaré, Farias e Timbó. As informações sobre a cobertura vegetal das ilhas que compunham o arquipélago são escassas. Oliveira caracterizou os manguezais da ilha do Pinheiro, outrora ilha dos Macacos, inexistente hoje em dia, pois foi incorporada ao continente na década de 90. Nesta ilha, o autor menciona a presença das espécies Laguncularia racemosa, Rhizophora mangle e Avicennia tomentosa. Oliveira menciona a ocorrência de Rhizophora mangle na Lage das Casadas e na Lage das Despresadas, situadas na face oeste da Ilha do Governador e que também teriam ocorrência na Ilha dos Pinheiros. Elmo Amador menciona em sua obra que haveria manguezais nas ilhas que compunham o arquipélago em questão, mas Amador abaixo, indica que apenas nas ilhas do Fundão e na ilha de Bom Jesus haveriam manguezais. Porém, as obras de construção da ilha da Cidade Universitária teriam, aparentemente, causado sua total destruição.

Manguezais são ecossistemas tropicais de elevada biodiversidade e são característicos da região litorânea brasileira e já foram muito abundantes na Baía de Guanabara. Hoje, os remanescentes em melhor estado de conservação estão dentro dos limites de unidades de conservação no fundo da baía (Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim e Estação Ecológica da Guanabara), mas também são encontrados em outros locais ao longo da orla em Duque de Caxias, Magé, São Gonçalo e no município do Rio de Janeiro. Neste contexto não faltaram fontes, relativamente próximas, para que ocorresse a colonização e o estabelecimento de manguezais na ilha do Fundão por meio dos propágulos transportados pelas águas da Baía de Guanabara.
Os manguezais na Ilha do Fundão variam suas dimensões mas estão presentes ao longo do canal do Fundão, na enseada dentro do Parque Tecnológico, na face da ilha voltada para a Ilha do Governador e se estendem desde o prédio da Educação Física até o Catalão, onde fica o Parque da Mata Atlântica Frei Velloso.

A flora arbórea característica do ecossistema de manguezal inclui as 3 espécies comuns na Baía de Guanabara e no estado do Rio de Janeiro:
- Rhizophora mangle (mangue vermelho),
- Laguncularia racemosa (mangue branco),
- Avicennia schaueriana (mangue preto).
A distribuição destas espécies pelos manguezais da Ilha do Fundão é variável, sendo a espécie menos frequente R. mangle (mangue vermelho), enquanto que a espécie mais comum é A. schaueriana (mangue preto).
Além destas espécies, podem ser encontradas nas áreas de transição do manguezal, na zona de contato com terra firme, a aroeira (Schinus terebinthifolius), o algodoeiro da praia (Hibiscus tiliaceus) e a samambaia-do-mangue (Acrostichum sp.). Ainda nessas áreas, mas não necessariamente invadindo o ecossistema, são encontrados exemplares de amendoeira (Terminalia cattapa), leucena (Leucena leucocephala) e o capim colonião (Panicum maximum).
Os manguezais são reconhecidos por suas diversas funções ecológicas, como berçários para diversas espécies da fauna, proteção da linha de costa contra a erosão marinha, retenção de material particulado e atualmente possuem destacado valor devido a sua reconhecida capacidade de sequestro e estoque de carbono, sendo superior ao estoque por hectare das florestas tropicais mais produtivas.
Apesar de sua importância ambiental, os manguezais da Ilha do Fundão veem recebendo, ao longo de décadas, o aporte de lixo trazido pelas marés e que foi depositado em seu interior. Vale mencionar que esse lixo é carreado pelas aguas fluviais da bacia hidrográfica que abrange 16 municípios e que drenam para a Baía de Guanabara, impactando tanto a fauna como a flora dos manguezais, prejudicando o funcionamento do ecossistema. O Projeto Orla Sem Lixo pretende investigar o efeito do impacto dos resíduos sólidos sobre os manguezais.


Sobre a fauna presente nos manguezais do Fundão, pode-se tomar como referencia a área de bosque dentro do Parque Tecnológico, onde foram observados capivaras, gambás, guaiamum, caranguejo-uçá, caranguejo chama-maré, o caranguejo de hábito arborícola aratu, cracas, cobra papa-pinto, garça branca, biguás, bem-te-vi, viuvinhas, garça-moura, gavião caramujeiro, colhereiros entre outras espécies de aves. Projetos de recuperação ambiental foram executados na ilha, inclusive com a criação de novas áreas de manguezal. Louzada executou plantios em diversos locais ao longo da Ilha, totalizando o plantio de 12.000 mudas das três espécies de árvores de mangue mencionadas como ocorrentes na Ilha. Com isso, a área ocupado por manguezais cresceu significativamente, mas não se pode deixar de destacar a criação das áreas situadas no canal do Fundão, que entre os anos de 2003 e 2014, ampliaram em 92% a área deste ecossistema que passou a alcançar 44.713m2. Tais mudanças podem ser verificadas através do Google Earth, ferramenta que possibilita visualizar imagens históricas – ao longo de anos anteriores.


Confira mais imagens dos manguezais e suas floras no Fundão



Texto de autoria do professor Marco Aurélio Louzada, do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), e da estudante Clara Borba, graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).